Em algumas ocasiões certas palavras, certas atitudes mais ou menos encenadas, sempre prontas a fazer germinar piedade nos outros, deixa-me pensativa. Vidas arrumadas de alguns, sem desvios, sem quedas. Não somos perfeitos e, além disso, o que sabem das nossas vidas, dos nossos sonhos, das nossas perdas, dos nossos sentir?
A maior parte das pessoas que nos rodeiam; para não falar daquelas que nem sequer nos conhecem e que são, quase sempre, as mais hábeis no manejo da falta de valores para nos acusarem, para nos magoarem, não têm consciência de que nada sabem de nós. Ninguém sabe de ninguém. Não somos histórias contadas em cinco minutos. Assim, não deveria ser possível condenar alguém a uma pena perpétua apenas porque ouvimos uma versão rápida de uma estória, quantas vezes recriadas pelas nossas frustrações não assumidas.
Sim, é verdade, tenho medo. Fujo de tudo o que não posso controlar. Vivemos num tempo em que ninguém diz “eu” com todas as letras, mas diz “eu” em todas as entrelinhas. Quem não diz “eu” cultiva o “eu” e, dessa maneira, o lugar dos outros parece ficar entre a função de adorno, que se coloca ou tira da prateleira conforme dá jeito ou o de simples obstáculo que é preciso abater.
Toda esta conversa, afinal, por que motivo? O tempo continuará a correr, entre sons de amor, ódio, raiva e indiferença, apesar do meu desabafo. De que adianta, tentar reconstruir o sentido do mundo na cabeça? A minha vida, a vida deles, a tua vida; sim, dirijo-me a você. Nada faz parar o tempo. Já pensou nisso? Que importa, então que os inimigos que não queríamos tentem destruir-nos suavemente? Que os amigos, caridosos e geniais, nos caluniem amavelmente?
Ponho tudo de lado. Não porque não me incomode, mas porque quero viver em paz, pelo menos, quero tentar essa possibilidade. Cada um com sua vida, o seu sonho, o seu tempo. Cada um com suas fantasias, cada um com sua loucura.
Um dia, na hora certa, saberemos entender e sorriremos talvez aliviados.