Terra macia cede, rostos sombrios sob a mesa, o buraco some.
Eu devia ter uns sete ou oito anos, não me recordo bem. Era uma daquelas tardes quentes de verão, e eu costumava passar horas no quintal de casa, observando as plantas que minha mãe cultivava com tanto carinho. Lá, havia um pequeno canteiro de flores e ervas, mas, naquela tarde, algo me chamou a atenção de maneira diferente. Um impulso inexplicável me levou a pegar a pá e começar a cavar.
A terra estava macia e fácil de remover, e logo o buraco foi ficando cada vez mais profundo. Eu não tinha um plano, apenas cavava, como se algo me guiasse, algo que eu não entendia. E então, de repente, quando olhei para dentro do buraco, vi algo que me fez congelar. Não eram apenas raízes ou pedras… Eram pessoas. Eu pude vê-las com clareza, como se estivessem ali, em uma sala subterrânea, sentadas ao redor de uma mesa. Pareciam estar em um almoço ou um jantar, mas não havia nenhuma comida, só os rostos sombrios e o silêncio estranho que pairava sobre eles. Não consegui distinguir detalhes, apenas as silhuetas e as sombras que pareciam se mover lentamente.
Aquele momento foi como um pesadelo que se fazia real, e uma sensação de pânico se espalhou por todo o meu corpo. Meu coração batia forte, e a terra que até então parecia simples e inofensiva se tornou algo ameaçador. Com as mãos tremendo, comecei a cobrir o buraco apressadamente, como se aquele ser estranho, aquela visão aterradora, pudesse sair a qualquer momento. Tapei tudo com pressa e, sem pensar, corri para dentro de casa. Eu não disse nada para ninguém. O medo me paralisava e eu me convencia de que talvez fosse apenas um susto, algo da minha imaginação.
No dia seguinte, não pude evitar. Eu precisava voltar lá, precisava entender o que havia acontecido. Voltei ao quintal, com o coração na garganta e a sensação de que algo estava prestes a acontecer. Fui até o lugar onde cavara no dia anterior, mas para minha surpresa, não havia nenhum vestígio. A terra estava perfeitamente nivelada, como se nada tivesse ocorrido. Não havia o menor sinal de que o buraco tivesse sido feito. Não era possível. Eu sabia o que tinha visto, sabia o que acontecera, mas ali, naquele espaço vazio, a dúvida se instalava.
Será que era um sonho? Uma alucinação? Ou aquilo foi real? Até hoje, a imagem daquela mesa, aqueles rostos sombrios, não me deixam em paz. O tempo passou, mas a memória daquele momento nunca se desfez. Eu me pergunto, de vez em quando, o que aquelas pessoas estavam fazendo ali e se realmente estavam em algum outro lugar, além da minha compreensão.
O que vi naquele buraco ainda é um mistério para mim. Uma lembrança que carrego, mas que talvez nunca tenha explicação.
Minha querida amiga Lúcia,
ResponderExcluirPermita-me "brincar" dentro da tua história. Neste "Era uma vez", no quintal da tua casa de infância, onde o Sol não se punha cedo para sempre poder fazer sombra às árvores, onde uma menina brincava com uma pá, mas, não era uma pá qualquer, era a chave para um universo de segredos escondidos no subsolo.
A pequena Lúcia cavava buracos sem rumo, movida pela curiosidade de encontrar algo. E então, um dia, a pá bateu em algo macio, e de dentro daquele buraco não saíram sementes ou raízes, mas, bolhas de luz que flutuavam no ar, carregando a imagem que suas retinas ansiavam por ver. Mas, eram bolhas de sonho ou de realidade?
Hoje, já adulta, Lúcia caminha pelas ruas de "Sampa" e, às vezes, o cheiro de terra molhada ou o brilho de um raio de Sol entre as folhas de uma árvore, trazem uma saudade que lhe aperta o peito. A saudade da menina que ainda vive dentro dela, que sonhou sob aqueles dias de Sol no quintal. Uma saudade de uma época em que buracos não eram apenas buracos, mas, portais para a magia... E a felicidade era tão simples quanto uma pá e um punhado de bolhas de luz.
Beijos e tenha um lúdico final de semana!!!
Olá caro Douglas.
ExcluirÉ uma história real, na minha mente de criança, eu vi, aconteceu. São boas lembranças, muito brinquei nesse quintal. Saudade? Pode ser. Quem não sente saudade? Realmente não foi um simples buraco, foi algo mágico que foge da minha compreensão. O quintal das maravilhas. Gratidão por enriquecer a minha história. Boa noite e suave semana pra você.
Beijo!
😺 Esse foi um fim de semana de muita exploração em buracos na blogosfera. rsrsrsrs
ResponderExcluirNova tirinha publicada.
Abraços 🐾 Garfield Tirinhas.
Olá Garfield.
ResponderExcluirPois é, a semana do buraco.
Gratidão pela visita.
Boa semana.
Ainda está a tempo, volte a cavar...
ResponderExcluirHá momentos que vivemos em criança que não têm explicação.
Eu vi um automóvel atravessar um muro coberto de folhagem. Mais tarde, fui lá e afastei a folhagem e não havia nenhuma passagem no muro...
Boa semana querida amiga Lúcia 🌼🌼
Beijos.
Olá caro Jaime. Já não existe o quintal e nem a criança que ali estava.
ExcluirMas eu sigo.
Gratidão pelas palavras e visita.
Boa semana amigo poeta.
Beijo!
Talvez seja uma metáfora para as coisas que nem sempre descobrimos dentro nós!
ResponderExcluirBjxxx,
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Quando criança.
ResponderExcluirTalvez.
Gratidão pelas palavras e visita.
Boa semana!
Oi, Lucia.
ResponderExcluirAdoro ler experiências pessoas da infância, adolescência...gosto de ouvir histórias pessoais. E essa tua história, vou te dizer...nem sei o que falar sobre. Pode-se dizer que foi sua boa imaginação infantil. Pode ser. Pode ter sido uma impressão, algo na terra fez você identificar rostos humanos, como acontece com as nuvens. E vai saber, pode ser exatamente como você disse, e aí fica mesmo como um mistério, uma coisa inexplicável. Mente infantil é terreno muito fértil, pode ser muitas coisas, mas profundamente real pois te afeta até hoje!
Salve aos bons mistérios da infância!
abraços
Olá Eduardo Medeiros.
ExcluirOlha, eu ainda não consigo ver como imaginação infantil, me pareceu tão real, que segue comigo essa passagem. Devo deixar como um mistério. Tenho algumas passagens minhas de infância por aqui. Passei um bom tempo nesse quintal das maravilhas. O meu mundo mágico, só eu e ele. Gratidão pelas palavras e visita.
Boa noite.
Abraço!