13 novembro 2010

O quadro


Lá estava ela presa naquele quadro, olhava quem por ela passava, como se aquelas cores perfeitas fossem as suas. Alguém a tinha pintado assim, idealizado, retocado nos pormenores. Depois de tê-la preso naquela tela para sempre, acrescentou a moldura fios dourados.
Imaginava-se a preto e branco, dramática, ou em pinceladas de cores fortes, revelando todos os contrastes. De alguma forma, ela detestava aquela perfeição que o pintor lhe atribuíra, aquilo que o retrato mostrava. Culpava-se por ter sido capturada assim, escondendo os tons escuros da sua personalidade.
Foi-lhe doloroso entender que precisava uma fuga. Pode perceber de que o tempo corroia a moldura, pouco a pouco. Esperou até que a primeira lasca se soltou. E depois outra e outra. Seria só uma questão de tempo e de paciência. Em breve a moldura partiria, deixando-a fugir para um cenário onde pudesse mostrar todas as cores da vida, sem moldura fixa, sem enquadramento.

2 comentários:

  1. Todas as molduras se vão corroendo com o tempo, é inevitavel, mas a pintura não tem que ser alterada ou adulterada, muito bom o texto mas amei o quadro,será que poderias me apresentar essa mulher?
    Uma excelente noite e um bom domingo, bjs

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  2. Boa tarde anônimo. Eu sei disso, porém ela não gostava do modo que a pintaram, e queria sair daquele quadro e viver a vida. Fique a vontade se quiser a foto. Obrigada por vir e ótimo domingo pra vc. Beijão.

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