As Correntes Do Amor

O amor não se vai, ele muda de lugar
Corre feito rio, devagar, por entre as pedras do tempo
Desliza sob folhas caídas, cada gota tocando a pele
Como um arrepio que chega sem aviso
Ele sopra no vento...
Às vezes como voz, outras como silêncio
É o eco de uma risada que a gente lembra sem saber por que
Numa tarde qualquer que ficou guardada
A cor do outono pinta o chão com lembranças
A terra se despede do sol
Mas não esquece o calor que ele deixou
Nas sombras, ainda há vestígios de luz
Pequenas brasas que acendem memórias
O amor caminha conosco, mesmo quando tropeça
É como o vai e vem do mar
Se afasta, mas volta
Sempre volta...
Num sussurro calmo, quase imperceptível
Trazendo promessas que resistem ao tempo
É o que nos prende à vida
Como raízes que seguram firme o chão
É o primeiro olhar que a gente nunca esquece
O toque que acalmou, mesmo sem dizer nada
A música que toca fundo, mesmo depois do fim da festa
É sopro antigo
Desenhando lembranças na neblina do tempo
Vai tecendo, ponto a ponto, um bordado só nosso
Que só o tempo entende de verdade
E quando a fonte parece secar
A água volta
Renovada...
Como o amor: muda, cresce, se transforma
Dá novas cores à vida
Abre horizontes onde só havia cansaço
Está no suspiro, no canto,
No voo incerto de um pássaro
Que, mesmo sem saber para onde vai
Segue com coragem...
E mesmo quando o silêncio é tudo o que resta
Mesmo quando a distância pesa
O amor permanece
Talvez mais quieto
Mas ainda ali
Um farol em meio à tempestade
Invisível, mas inteiro
Presente em cada gesto
Em cada passo da dança da vida
Porque o amor, de verdade
Não vai embora, ele se reinventa
E encontra novos jeitos de ficar...