02 dezembro 2025

Decepção Amiga

Os Sinais estavam claros, eu que não quis enxergar

Dizem que a vida é uma grande roda-gigante: ora estamos lá em cima, tocando o céu com a ponta dos dedos; ora descemos devagar, encostando o peito no metal frio da realidade. E, no meio desse vai e vem, vamos colecionando pessoas, umas que passam rápido, outras que parecem ficar para sempre.

O estranho é que, com o tempo, descobrimos que os golpes mais profundos não vêm de quem nos ameaça, mas de quem nos abraça. Afinal, do inimigo esperamos a flecha, mas do amigo? Do amigo esperamos a mão estendida, o ombro quente, o silêncio cúmplice nas horas de aperto.

Por isso, quando um amigo trai, falha ou nos vira o rosto, o estrago é silencioso, mas certeiro. Não faz barulho, mas derruba. É como se uma porta que sempre esteve aberta se fechasse sem aviso e a gente fica ali, com a mão na maçaneta, tentando entender em que momento esqueceu-se de olhar para as pequenas rachaduras.

E ainda assim, seguimos. Porque o coração humano é teimoso: machuca, remenda, costura, e insiste. Aprende que nem toda amizade é eterna, mas que cada uma deixa uma marca, algumas doces, outras duras. E que a decepção, quando vem de quem consideramos, ensina mais sobre nós do que sobre eles.

Afinal, a maior decepção é aquela vinda dos amigos, pois dos inimigos… Esses, nós esperamos.

“Cicatrizes que Falam”

No peito guardo um mapa
De encontros e despedidas
Onde algumas rotas foram luz
E outras deixaram feridas

Do amigo que virou ausência
Ficou a lição do caminho
Confiança é flor delicada
Que não floresce no espinho

Mas sigo entre quedas e sonhos
Porque a vida é ponte e travessia
Quem fere pode até marcar
Mas não apaga a poesia

20 novembro 2025

O Ladrão Sorrateiro

Ele foi sorrateiro, sorrateiro como um ladrão e quando eu vi ele tinha me roubado. Sim, ele me roubou de um modo lento e profundo e depois me atirou facas. Me atirou facas com a elegância de quem atira flores. (Audrey Cullen)


Estava eu pensando, sim, eu penso, e nem sempre é agradável. Às vezes meu próprio pensamento aparece diante de mim como um lembrete indesejado: O ser humano é um ladrão sorrateiro. Somos roubados o tempo todo, não por objetos, mas por desgaste. Há quem leve nossa energia, nossa tolerância, nossa sanidade momentânea, e ainda saia achando que fez um grande negócio.
O curioso é que muita coisa que pensamos ter perdido jamais fez falta. Se olhar com atenção, algumas “subtrações” são apenas faxina involuntária. Não te tiraram nada, só removeram um peso que você fingia não carregar. E, no fundo, sabemos que certos incômodos só serviam para ocupar espaço e justificar o atraso da própria vida.
Há tipos de experiência que até dá pra reciclar: Vira alerta, vira anticorpo, vira senso de direção. Mas existe também o descarte definitivo, aquele material humano que não tem reaproveitamento possível. Nem o lixo quer. E quando esse tipo finalmente se desprende do nosso caminho, não merece reflexão profunda, apenas um comentário breve: Faça bom proveito, siga sua rota, não volte.
O ser humano gosta de sugar, mas também gosta de desaparecer quando já pegou o que queria. E sim, muitas vezes a saída daquilo que parecia um prejuízo é, na verdade, a libertação de um encosto que já estava velho demais pra carregar.
Então é simples, se foi ótimo. Há perdas que não merece luto, apenas um aviso final, seco como a conta que chega ao fim de um bar: Boa viagem. Paradinha curta, porta fechada e vida que segue, de preferência sem retorno.

14 novembro 2025

Quando Você Me Olha


Quando você me olha
Algo desperta em mim
Como se o mundo respirasse mais fundo
Só pra dar espaço ao que sinto
Encontro-te uma vez
E já imagino reencontros
Beijos que começam tímidos
E voltam certos
Como quem reconhece o caminho
Eu, que nunca soube o nome do amor
Agora escuto seu ritmo no peito
Suave, insistente
Pedindo coragem para ser dito
Se você sentir também
Não precisa prometer nada
Só fica...
E deixa o tempo fazer o resto
Porque quando estou perto de você
Tudo parece possível
E eu…
Eu estou me descobrindo
Em cada novo jeito de te amar

Little Anthony & the Imperials - I'm Falling In Love With You
A música fala sobre alguém que está descobrindo o amor pela primeira vez e sentindo aquele misto de encantamento e insegurança. A pessoa quer saber se o outro sente o mesmo , se um beijo vai se repetir, se depois daquela noite eles podem se tornar algo mais. É uma entrega doce e vulnerável, um pedido sincero para que o sentimento seja correspondido e para que os dois se permitam viver esse amor que está nascendo.

02 novembro 2025

Raízes Do Silêncio

Não sei ao certo quando partiu
Talvez tenha sido devagar
Como quem se despede em silêncio
Esperando que o outro perceba

O amor, antes tão vivo
Foi se apagando nas entrelinhas do costume
Os gestos viraram hábito
E o toque, lembrança

A casa ficou cheia de vazios
Ecos de risos antigos
Fotografias que ainda tentam sorrir
Há uma xícara esquecida na mesa
Metade café, metade saudade

Procurei respostas no espelho
Mas vi apenas o reflexo de quem amou errado
Não por falta de amor
Mas por medo de mostrá-lo

Achei que amar era segurar forte
Mas era deixar espaço pra respirar
Achei que tempo bastava
Mas o tempo sem cuidado só desgasta

Agora carrego comigo
As raízes do silêncio
Profundas, invisíveis
Crescendo no lugar onde se esteve

E se ainda dói, é porque ficou vivo
O que não teve fim...

A canção "She's Out of My Life", interpretada por Josh Groban (originalmente de Michael Jackson), é uma balada emocionante que aborda o término doloroso de um relacionamento e o subsequente arrependimento. A letra reflete sentimentos de perda, indecisão e a dor de perceber que o amor foi subestimado.


30 outubro 2025

Ecos Nas Vozes

“Já me li em tantos livros.” (Zack Magiezi)
Às vezes esqueço onde terminam as histórias dos outros e começa a minha. Cada palavra que me tocou deixou um traço, uma dúvida, um espelho. Não busco mais uma definição, eu percebi que tentar dizer quem sou é reduzir o movimento que existe em mim. Mas sei, com alguma clareza, o que não quero ser. E talvez isso baste por agora, um contorno suave, um espaço onde o que sou ainda pode respirar.
Li-me em ecos nas vozes
Que o tempo deixou abertas
Não busco forma, nem rótulo
Apenas o silêncio entre o que fui
E o que escolho não ser